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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

NINA E EU

As férias da minha esposa estão chegando. Isso significa viagem à vista (na verdade a prazo pois está tudo muito caro!). Logo terei que me programar para troca de plantões e me preparar para perder aulas importantes da pós-graduação. Mas estas não são minhas maiores preocupações. Na verdade o que tem me tirado o sono é deixar para trás minha cadela Nina da raça Labrador, de apenas dois anos, aos cuidados da minha sogra. Preocupação não pelo Labrador, mas pela minha sogra.


Como as recomendações necessárias a um cão Labrador não são poucas e nem simples então decidi deixar tudo por escrito. Ainda precisa de modificações mas ficará mais ou menos assim:

“A Nina acorda todos os dias por volta de 7 da manhã. O pão dela deve estar pronto no máximo em 15 minutos após o despertar. Caso contrário todo o bairro acordará na mesma hora. O pão deve ser jogado (sem margarina ou qualquer outra coisa dentro) nos degraus superiores da escadaria que leva ao corredor já que um outro pão deve ser jogado em baixo para a Mel (minha outra cadela, vira-lata, que felizmente sabe se cuidar sozinha).


Após o café-da-manhã deverão ser entregues as garrafas 'PET' para que ela possa brincar por toda a manhã juntamente com seu ossinho sintético.


Na hora do almoço encha a vasilha de ração até a metade e a coloque distante da outra vasilha destinada para a Mel. Na hipótese da Mel comer a ração primeiro é necessário permanecer ao lado da vasilha da Nina até que a mesma possa terminar sua refeição pois ela não come se a Mel estiver por perto. Inclua sempre uma fruta na sobremesa.


Depois de almoçar geralmente a Nina faz a sesta dormindo ao ar livre. Mas para isso carinhos em sua barriga são necessários para iniciar o processo. Para facilitar a chegada rápida do sono e evitar problemas de hiperatividade durante o resto do dia recomendo colocar o CD Player próximo a ela com os CDs que deixei em cima da estante. As músicas deverão ser colocadas nessa ordem:

1.Franz Liszt — Rhap­so­die Hon­groise Nº 1
2.Tchai­kovsky — Op 37 - The Seasons No 6 - June Barcarolle
3.Cho­pin — Valsa em A-flat maior, Op. 69, No. 1
4.Bach — Sonata Nº 1 em A menor, BWV 1001 
5.Eric Satie — Gymnopedie Nº1 e Gnossienne Nº 3
6.Vivaldi — Con­certo para Oboe em D menor, RV 454 II. Largo
7.Debussy — Sonata para Flauta, Viola and Harpa, 1915

Importantíssimo. As versões devem ser exatamente as mesmas listadas.


No fim da tarde dê um passeio na pracinha. Para colocar a coleira lembre-se sempre de passar a pata direita primeiro, depois a pata esquerda e só assim coloque a parte que prende no peito.


Ao retornar leve-a para beber água. Abra a torneira que fica à direita do tanque (nunca a torneira esquerda). Coloque sua mão em formato de concha de modo que a água possa escorrer até ao alcance da boca da Nina (fotos do procedimento em anexo).


Por volta de 19 horas encha novamente a vasilha com ração. Repita as operações como no almoço. Lembre-se, se necessário, fique perto até ela terminar a refeição.


Antes dela dormir arrume a cama da Mel e somente depois, a da Nina. São três camas que devem ser ‘montadas’ da seguinte maneira:


1 - Coloque de 3 a 4 panos próximos da máquina de lavar roupas


2 - Coloque 2 panos próximos da porta da cozinha


3 - Coloque 2 a 3 panos na varanda.


Importante, verifique se não colocou nenhum pano dela por engano na cama da Mel. Ela escolherá o melhor lugar para dormir levando em consideração critérios de temperatura, umidade do ar ou estado de carência.


No caso da Nina latir durante a noite siga os seguintes passos:


1 - Verifique se há ração sobrando na vasilha. Talvez ela esteja com fome e quer comer com alguém ao lado para garantir que a Mel não estará atrapalhando por perto.


2 - Certifique-se que todos os brinquedos foram recolhidos pois ela pode estar querendo brincar de madrugada com a Mel, que quer apenas dormir.


3 - Se ela estiver latindo com cara de assustada olhando para algum canto mostre a ela que não há nada e diga olhando nos olhos dela com firmeza: fantasmas não existem (se você achar mesmo que é um fantasma esconda o seu medo e tente ser convincente).


4 - Se não for ração, fantasmas ou brinquedos ela está querendo uma relaxante massagem para dormir. Se for esse o caso proceda da seguinte forma: inicie a massagem no sentido céfalo-caudal começando pela nuca até a região lombar. Faça movimentos circulares com a polpa dos dedos, no sentido anti-horário passando por toda a pelagem até a metade da coluna. O restante deve ser feito em movimentos ondulares sincronizados com as duas mãos (para aprender a realizar movimentos ondulares sincronizados vide folha em anexo). Volte em direção à cabeça agora apoiando a eminência hipotenar levantando suavemente os pêlos. Repita a operação três vezes.


Normalmente essas medidas surtem efeito. Em todo caso não bata nela. Ela pensará que se trata de uma brincadeira nova e ficará mais alerta ainda. Se for xingar faça isso olhando fixamente nos olhos. Seja firme e aja com sinceridade. Fale o que realmente está pensando, diga a verdade e não use expressões de baixo calão. Ela vai perceber que você vai xingá-la e lançará mão de recursos teatrais para evitar a bronca. Certamente fará uma cara de cachorrinho indefeso abandonado que lhe dilacerá o coração e olhará pra você como quem diz: 'mas eu não fiz nada'. Antes que você comece a chorar xingue-a com firmeza, depois chore.”

Bom, acho que já é um começo, ainda me lembrarei de mais cuidados até o dia da viagem. Espero que as recomendações escritas funcionem. Deixarei cópias para o meu sogro e meu cunhado. Ah, também enviarei cópias para os bombeiros, SAMU e defesa civil. Sabe-se lá quando será necessário...



sábado, 18 de fevereiro de 2012

ETERNO CARNAVAL

Rasguei minha fantasia
Escondi a máscara na última gaveta
Joquei no lixo os confetes
E a serpentina agora enrolada na minha coluna tem outra função
Vou celebrar o abandono, a lágrima, o esquecimento
Meu carnaval será na Grécia, ou no Egito, ou no Oriente
Vou dar o meu adeus à carne
Até o meu corpo verter em cinzas
Só quero a columbina para ser meu par
E assim celebrarmos juntos o eterno carnaval

sábado, 4 de fevereiro de 2012

A DANÇA

Já experimentei diversas religiões. Algumas bem de perto, outras apenas lendo sua literatura ou colhendo informações de outros praticantes.


É um tema que sempre me fascinou. Religião. Religar com a força divina que por algum motivo que não entendemos ao certo foi perdida.

É como se estivéssemos diante de um computador executando nosso trabalho e de repente a tela se apaga. Ficamos sem entender, pensando que ele estragou ou que acabou a luz ou outra coisa qualquer e só depois percebemos que o plug que estava afrouxado se desligou da tomada.

Talvez esteja nisso a explicação de estarmos afastado da luz divina. Talvez nossa ligação com Deus estivesse enfraquecida ainda e mesmo assim continuamos a mexer no computador sem o devido cuidado.

Cada religião possui seu sistema de dogmas, ritos, festas, orações, organização. Todos com os mais variados motivos. Ritos às vezes semelhantes, às vezes distintos, às vezes estranhos e sem sentido.

Em muitas religiões as pessoas participam do culto ou dos rituais sem nem entenderem o motivo daquilo. Apenas fazem porque alguém disse para fazer. Diferentemente de quando as pessoas estão reunidas numa festa ou num estádio de futebol ou num show de rock.

E observando pessoas numa festa ou numa danceteria que pensei que talvez as religiões devessem incluir em seus rituais a arte milenar da dança!

A dança talvez tenha surgido exatamente para agradar os deuses no Egito antigo. É possível que existam religiões que praticam a dança como forma de culto. Mas, por que a dança?

A dança é o movimento do corpo numa relação íntima com a música que está tocando. Como se uma energia envolvesse um corpo inanimado e o fizesse movimentar ganhando vida.

O movimento criado por uma energia que resulta em emoções. A vida em si é uma dança. Talvez Deus criou o ser humano no gênero masculino e feminino, não para apenas se procriarem, mas para dançarem. Para que, da união do masculino e do feminino, surgisse uma dança capaz de gerar movimentos e emoções para que o ser humano pudesse experimentar novamente a sensação de estar ligado com as forças divinas. O movimento impelido por uma energia gerando ação. E então dois seres se tornam apenas um. E ao final da dança quem sabe o ser humano se lembre que ao lado de Deus ele sempre foi um dançarino. Um dançarino que de repente quis criar sua própria música e abandonar o grupo e a orquestra.

Mas Deus nos deu o homem e a mulher, nos deu a capacidade de transformar sons em música, nos deu um corpo que pudesse acompanhar a música e a produzir música.

Dançar é se unir a outro corpo. É se ligar a esse corpo. Praticar religião é dançar com Deus e se fundir a Ele.

A dança é a maior das manifestações divinas que o ser humano pode realizar. Dancem e serão livres.